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Quais os amigos ou mestres que o marcaram mais para, assim, chegar até aqui?

Pergunta fácil, mas de resposta impossível. Já fiz uma introspeção, já redigi várias folhas com nomes de amigos que me acompanharam, mas passado alguns momentos constatei a falta de outros. Por isso, vou referir alguns recentemente perdidos:

Fernando Pedro, perda muito difícil de colmatar; Telmo Neto, um “animal político” como não conheci outro; José Martins Saraiva, um enorme escritor poeta insubstituível; Fernando de Almeida, grande amigo com quem muito aprendi; Leonel Costa, que soube construir um império, e que a morte levou prematuramente; O meu patrão, Sr. Aníbal Abrantes, um líder por excelência e muitos outros; Ainda vivos, começarei pela equipa que está a investigar a “História da Indústria de Moldes em Portugal”, constituída por D. Maria Arminda Pereira, Luís Abreu e Sousa, Eduardo dos Santos Pedro, António Rato, da qual faço parte, todos os trabalhadores da indústria de moldes, não só da fábrica Aníbal Abrantes, pois desde o varredor aos encarregados, temos sempre possibilidade de aprender e com muito orgulho posso dizer que sempre me cumprimentam com muita satisfação, Henrique Neto, que foi o meu primeiro mestre na Indústria de Moldes, o Eng.º Joaquim Menezes, figura muito importante na Indústria de Moldes Nacional e Internacional.
O colega Angelino Rosendo Ritto, exemplo de verticalidade e honestidade, os amigos da manhã da pastelaria, Eduardo Torres Gomes e Octávio Ruivo e, aos Domingos, a Dra. Cecília Vicente que nos brinda com os seus conhecimentos políticos e económicos.

Muitos clientes de várias nacionalidades e grandes amigos, Bruno Silva, que me acompanhou na aventura de uma empresa comercial de moldes, Vítor Batista que passa despercebido, mas que tem sido fundamental na organização de festas, sejam dos Bombeiros, sejam de solidariedade, ou de passeios que espero continuar a organizar com a sua “sócia” Maria do Carmo, a Dra. Marina Domingues da ADESER, pela muita paciência para aturar um mau aluno dos computadores, Gabriel Roldão um grande investigador da História da Marinha, com obra feita, bem como a escritora Deolinda Bonita, incansável na divulgação da História e das figuras do nosso Concelho, Hermínio Nunes, que deu a conhecer os primórdios da História da Marinha Grande, obras indispensáveis para quem quiser ou puder continuar a revelar a História, não as Estórias da nossa terra, a D. Leonilde Martinho e todos os professores e alunos da Tertúlia de Ouro, pelo apoio e colaboração na divulgação da cultura portuguesa, o Guilherme Correia, ilustre pintor marinhense e querido amigo, uma palavra de agradecimento para a Joana Coelho, Maria Helena Conceição e Catarina Medina que graciosamente tem passado ao computador e à minha “pen”, depois de traduzirem os meus hieróglifos, as minhas aulas e outros trabalhos, à direção e sócios da Confraria da Sopa do Vidreiro, pela colaboração nas biografias dos homenageados, a dois grandes amigos Dr. Álvaro André e Gualter Morais, que a doença impediu de manter um convívio cultural, a minha amiga doutora Cristina Nobre, exemplo de cultura e de tenacidade contra a doença e a um grande amigo, o Doutor da Universidade de Coimbra e autor de vários livros de História de Portugal António Simões Rodrigues, que religiosamente me enviou as folhas das aulas da última cadeira – História da Cultura Portuguesa do prof. J. S. da Silva Dias e que por motivos militares, não pude assistir.
Finalmente à minha mulher que me atura há 52 anos, aos meus filhos, ao meu irmão e restante família do clã dos Beltrões, aos meus pais que me educaram e permitiram estudar fora da Marinha Grande e foram um exemplo de respeito, que os filhos seguiram.

Quanto aos mestres: já referi a Dra. Josefa no Colégio Afonso Lopes Vieira; no 7º ano, em Santarém, o professor de Literatura Portuguesa – não me recordo do nome – que me revelou, entre outros autores, Eça de Queiroz, que se emocionava com a leitura de algumas obras e o professor de Filosofia que me despertou para a cultura filosófica, disciplina onde obtive a melhor classificação de 16 valores; na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, curiosamente, só “a posteriori” me apercebi da importância do seu ensino, isto porque o curso era de 5 anos e fiz os dois primeiros e os dois últimos no serviço militar. Só o terceiro ano o pude fazer na Faculdade. Os Mestres de prestígio internacional, posso citar, a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, que dava a cultura grega – a Paideia -, o doutor J. S. da Silva Dias, a História da Cultura Portuguesa, o doutor Salvador Dias Arnaut, História de Portugal e da Expansão e Descobrimentos – uma nota: quando me atrevi a falar de Jaime Cortesão e das suas teorias levei uma “arrochada”, naturalmente verbal, pois só então descobri que o professor Damião Peres era a autoridade máxima, por ter sido o professor da cadeira na Faculdade!... Em Paleografia e Diplomática tive o padre Avelino de Jesus da Costa, autor dos álbuns desta matéria e uma autoridade; o doutor Torcato de Sousa Soares, ilustre medievalista que no entanto dava História da Cultura Romana mas que por motivos do seu doutoramento foi dada pelo seu assistente. Colaborei na sebenta da cadeira, no capítulo do direito romano e traduzi umas leis para português. Um outro professor, falecido em 1993, foi Sílvio Lima, proibido pelo regime ditatorial de Oliveira Salazar, de ensinar, sendo mesmo expulso da sua carreira académica na Universidade de Coimbra, em 1935. Em 2002 a Fundação Gulbenkian editou “A obra completa”, em dois grossos volumes. Para terminar, as minhas desculpas aos amigos que “certamente” involuntariamente não citei. É a idade!


Que factos relevantes o marcaram mais, na história social mais recente da Marinha Grande?

Naturalmente a “Revolução de 25 de Abril de 1974”, para o bem e para o mal. O povo não estava preparado para compreender o que era a liberdade e como viver em democracia. Criticava-se a ditadura salazarista e quase caíamos noutra. Porque é que as ditaduras não se preocupam com a educação, porque quanto mais atrasada estiver, mais fácil é de governar.

Felizmente que a Revolução foi feita por uma elite militar que entregou a governação a uma elite política. Mesmo assim assistimos a greves selvagens que destruíram empresas. Paulatinamente, o bom senso foi-se impondo e os ânimos acalmaram. Vivemos em Democracia e que a Ditadura jamais volte ao nosso País.


Conte-nos um dos seus episódios, que o marcaram mais, como cidadão atento à evolução política e social do País: um logo no início das conquistas de Abril de 74 e um outro que seja mais recente.

O que mais me marcou após a revolução foram as greves selvagens. Prejudicaram o bom nome das empresas e do País. Quando estudante também fiz greves e tomei parte em muitas reuniões de estudantes, para resolver problemas, por exemplo, a nomeação do novo reitor. Cedo me apercebi que não se pretendia resolver os problemas académicos, mas criar problemas políticos. Quando pretendemos oficializar o Solar Rapo-Taxo para Real República do Rapo-Taxo, o Conselho dos “Veteranorum”, indeferiu a nossa pretensão. Lá fui falar com o meu irmão, ao Conselho, para justificarem a decisão. Desconheciam que nós eramos do Rapo-Taxo pois só conheciam um dos colegas que era monárquico, e julgaram que a oficialização da República era mais uma de apoio ao regime. Conheci muitos dos políticos e militares que fizeram a revolução, mas como sempre nunca procurei nenhum para “cumprimentar”.


Como faz, hoje, no seu dia a dia, para conseguir uma gestão de uma apertada agenda cultural? 

Mais uma boa pergunta. Reconheço, por vezes, estar a abusar das minhas capacidades, pois são muitos trabalhos simultaneamente: preparar as aulas para a “Tertúlia de Ouro”, escrever artigos para a revista “O Molde”: a história de empresas com 25 e 50 anos, o falecimento de algum industrial da Indústria de Moldes de que fazemos a respetiva biografia de homenagem; todos os anos a “Confraria da Sopa do Vidreiro”, homenageia uma figura da indústria e tenho que fazer a respetiva biografia. Pedem-me para fazer a revisão de livros e comentá-los ou apresentar o autor. Regularmente apresentam-me teses, para rever os textos. E regularmente, tenho de parar para “carregar as baterias”. É bem certo de que quem corre por gosto não cansa.

Esquecia-me de mencionar que faço parte do grupo que prepara a História da Indústria de Moldes em Portugal e estamos a rever os Diários da República de 1920 a 2012. Folha a folha para confirmar a data da fundação das firmas.