Renato, Mónica e Ricardo são apenas três das inúmeras pessoas da região que se encontram fora do país, e que, por estes dias, estão confinadas às quatro paredes de casa devido às medidas de contingência e estado de emergência decretados na Itália e na Espanha, onde se encontram. Contactados pelo JMG, aceitaram partilhar os seus testemunhos de vida, bem como a vista que têm das suas janelas, numa situação de pandemia que envolve o mundo e cujo desfecho é imprevisível

 

“O meu nome é Renato Carlin, e estou desde o dia 19 de fevereiro a fazer Erasmus com a minha namorada, Bianca Carvalho, em Itália, na cidade de Siena, a estudar na Universidade de Siena.

Itália, neste momento, é o segundo país com mais infetados e mortes provocadas pelo COVID-19, atrás da China. Dito isto, atualmente estamos, tal como o resto do país, em quarentena.

No entanto, gostaria de explicar o decorrer de todo este processo cronologicamente.

No dia 4 de março, a Universidade que frequento suspendeu as aulas por um período de duas semanas, situação idêntica à que está a acontecer atualmente em Portugal. Esta decisão na altura foi vista como um pouco “exagerada”, por alguns docentes e outras pessoas, porque apesar dos relatos de que os números estavam a aumentar gradualmente, ainda se acreditava que a situação estava concentrada no norte do país, onde já tinha sido decretada quarentena há alguns dias.

Apesar da suspensão das aulas, não nos foi dada informação de que não podíamos andar na rua, mas notou-se uma diminuição do aglomerado de pessoas nos locais mais turísticos da cidade, ainda que não se notasse preocupação por parte da população.

Esta situação manteve-se até ao dia 9 de março, dia em que Itália decretou quarentena, com efeito a partir do dia 10 para o resto do país, situação esta que, volto a dizer, estava anteriormente restringida a algumas cidades do norte do país.

No dia 10 aproveitámos para ir ao supermercado de manhã, para que pudéssemos estar em casa nas próximas duas semanas, e já eram visíveis algumas regras de prevenção, como por exemplo, o distanciamento de um metro entre pessoas, e o uso de luvas por parte dos funcionários.

No dia em que foi decretada a quarentena soubemos que a situação nos hospitais era caótica. Em alguns sítios, pessoas com menos de 65 anos não eram assistidas e disseram-nos que havia casos em que pessoas com graves problemas (ataques cardíacos, etc.) não estavam a receber assistência.

Atualmente existem vários hospitais em Itália que se encontram sobrelotados, com falta de espaço e equipamento, sendo que existem casos de doentes que se encontram em casa. Tiveram de ser criadas tendas para que as pessoas possam aguardar pelo resultado dos seus testes relativos ao vírus.

No início desta semana foi-nos dada a informação de que havia cerca de 30 casos na nossa cidade, e sabemos que um deles era estudante noutra universidade em Siena.

Neste momento, estando em quarentena, só temos autorização para sair de casa com justificação, ou seja, ir trabalhar, ir ao hospital ou ao supermercado. Caso esta regra não seja respeitada podemos incorrer numa multa acima dos 200 euros, e no pior dos casos prisão.

Apesar de não viver numa rua muito movimentada, é visível uma diminuição do número carros que por aqui passa”.

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