O verão de 2020 promete ficar na história como o “pior de sempre”, pelo menos para alguns comerciantes com quem o JMG falou esta segunda feira. A culpa é da pandemia do novo coronavírus que veio ‘semear’ o medo em turistas e emigrantes, em menor número que o habitual e mais “poupados” nos gastos

Segunda feira, 24 de agosto. Chegámos à Praia da Vieira antes das 11 horas e já se via muita gente pelas ruas. No areal, conseguimos ver, com dificuldade, alguns chapéus abertos e toalhas estendidas, ou não fosse o espesso nevoeiro que se impunha. A bandeira estava assim vermelha, proibindo os banhos, apesar da baixa-mar aprazada para as 13h26 estar já a tornar o mar um pouco mais brando que o habitual.

Na Avenida dos Pescadores já não restavam muitos lugares para estacionar e as esplanadas estavam bem compostas. Entrámos no Café Casinha do Mar, onde a vitrine recheada de bolos convidava a um lanche ou ao pequeno-almoço, consoante o caso. Aurélia Filipe, proprietária do espaço, deu conta de que o negócio tem estado “muito fraco”, considerando que está a ser o “pior verão”. O negócio, que esteve fechado três meses devido ao confinamento, viu aumentar as vendas através de take away já que muitos clientes “têm receio de entrar e permanecer no café”.

Olga Moreira, proprietária da Florista Tropicália, que também vende jornais e revistas, revela que as vendas sofreram “uma quebra grande”, e que alguns emigrantes vieram passar férias à Praia da Vieira mas nada como em anos anteriores. “Passei a abrir só às 8h, quando nos outros anos abria mais cedo”, referiu a empresária que se mostra “esperançada” que os primeiros dias de setembro possam trazer mais alguns clientes.

Voltámos à Avenida dos Pescadores e entrámos na sapataria Calçados Paulita onde os proprietários admitiram que em 30 anos de atividade estão pela primeira vez a fechar as portas mais cedo devido à falta de clientes. “Noutros anos estávamos aqui das 9h à meia noite todos os dias em julho e agosto e agora não se justifica. Algumas pessoas vão dar o seu passeio na mesma mas estão mais contidas nos gastos”, refere Ana Paula Gomes.


Os emigrantes, que noutros verões faziam despesa em calçado e preferiam marcas de referência, “agora procuram artigos mais baratos e levam em menor quantidade”. “Está a ser o pior verão em todos os aspetos”, considera a empresária, lamentando que “algumas pessoas não tenham melhorado nada com a situação da pandemia, pelo contrário”, referindo-se a algumas situações de potenciais clientes que não querem esperar à porta pela sua vez e que se recusam a usar a máscara de proteção.

Ali quase ao lado, Patrícia Silva, funcionária da Yoanys Modas, lamenta os “poucos clientes” que têm aparecido este ano, considerando que “o tempo também não tem ajudado”.

Com menos emigrantes e turistas há também uma menor procura de presentes e lembranças. Que o diga Arlinda Mateus, proprietária da loja Prenda Linda, situada na Rua da Boavista e que apenas funciona no período estival. Ao nosso jornal admitiu que o negócio tem estado “fraco” e que nem todos os clientes acatam de bom grado as regras de etiqueta e distanciamento recomendadas devido à pandemia. “Alguns ficam aborrecidos, mas temos de ver que é para o bem de todos”.

No que respeita à restauração as coisas não estão melhores. No restaurante marisqueira Lismar, situado em frente à praia, Liliana Ramusga, que gere com o irmão o negócio fundado há 45 anos pelo pai, admite que estão a trabalhar metade do habitual em anos anteriores. Com a capacidade do espaço reduzida, o staff também sofreu uma quebra à imitação dos clientes que são em menor número. Ainda assim os fins de semana têm sido “bons” e há esperança que os primeiros dias de setembro ainda possam trazer visitantes à praia.

Já no restaurante marisqueira Solemar, que também já conta 45 anos de experiência na área, este está a ser “o pior verão de sempre”. Os clientes habituais têm-se mantido fiéis, como referiu ao nosso jornal Paulo Silva, gerente do espaço, “mas de resto está parado”. O tempo, que nem sempre está de feição também não tem ajudado e, por isso, é preciso contenção nos gastos.


“Passámos de 25 para 9 mesas, o que nos limita bastante, sobretudo quando se trabalha com peixe e mariscos que têm de ser sempre o mais frescos possível”. O restaurante reduziu, por isso, a oferta de peixe fresco e está a apostar no prato que é a imagem de marca da casa: o arroz de marisco da Praia da Vieira. “Tem de ser um dia de cada vez”, rematou o responsável.