O professor e investigador Carlos Neto veio à Marinha Grande na semana passada, a convite do Agrupamento de Escolas Nascente, para partilhar a sua visão e conhecimentos sobre o tema “Brincar: Importância no desenvolvimento da criança”

 

A iniciativa teve lugar na tarde do passado dia 4 de janeiro, na Casa da Cultura Teatro Stephens, contando com uma plateia de educadores e professores de vários níveis de ensino, mas também pais e encarregados de educação.

Ao longo de hora e meia, Carlos Neto afirmou que a brincadeira é essencial para o desenvolvimento humano, considerando que “uma criança que não brinca é uma criança doente” e sem capacidade de adaptação a situações adversas. Para o investigador, as crianças de hoje “vivem amarradas, encharcadas em dispositivos eletrónicos e desconectadas da natureza”, o que trará implicações na sua vida futura. Alertou para o facto de as ‘agendas’ de algumas crianças serem mais preenchidas que as de muitos adultos, não lhes deixando tempo livre para poderem explorar o mundo que as rodeia, serem curiosas, caírem e lidarem com as frustrações.

“Hoje não se veem crianças a brincar na rua, tudo é perigoso. Os pais querem telheiros nas escolas para as crianças não se molharem. Tem tudo de ir ao psiquiatra!”, alertando para a perda de qualidade de vida ao não se aproveitarem as condições de clima e segurança, por exemplo, existentes no nosso país.

O investigador partilhou com a plateia que em Portugal as crianças têm cerca de hora e meia por dia ao ar livre, o que é menos que o tempo livre destinado aos reclusos, apontando como preocupações a saúde mental de crianças e jovens e as elevadas taxas de suicídio.

“O mundo mudou e a escola tem de refletir e ensinar para o futuro. O que estamos a ensinar agora, não vai servir para nada”, considerou Carlos Neto, que defende uma reflexão urgente em Portugal sobre o ensino, apontando a descentralização de competências do estado central para as autarquias como a melhor altura para o fazer, com a participação das crianças.

Carlos Neto, que nos últimos 50 anos se tem debruçado sobre estas matérias, alertou que o declínio do jogo e do brincar de forma livre, na natureza, tem levado ao aumento da obesidade nas crianças, doenças cardíacas e desordens mentais. “Crianças saudáveis têm os joelhos esfolados” afiançou o investigador, afirmando que “as mazelas emocionais ficam para toda a vida. Os joelhos esfolados, curam-se”, partilhando exemplos de escolas, em diversos pontos do mundo, em que os recreios dão primazia aos elementos em madeira, ao verde e à natureza, deixando às crianças a possibilidade de correr e explorar, em detrimento do cimento.