Acabei de ler neste jornal um texto de Elvira Ferreira que, em qualquer latitude europeia, ditaria o fim político de uma qualquer autarquia. Não na Marinha Grande, porque por uma qualquer razão estranha os marinhenses continuam a votar nos mesmos e não olham para o que se passa à sua volta

 

O texto de Elvira Ferreira mostra boa memória e relata, com notável pormenor, dez anos de afirmações mentirosas de autarcas do PS sobre a construção da piscina. Como aqui também escrevi recentemente, existe uma forte probabilidade das recentes afirmações da Presidente da Câmara seguirem o mesmo caminho: o caixote do lixo da história.

Outro assunto. Há dias, fui visitar no espaço do Bambi em São Pedro, uma exposição recomendada como um projecto da autarquia e da Faculdade de Arquitectura de Coimbra, destinado a repensar o futuro de São Pedro de Moel. Confesso que rapidamente entrei por um lado e saí horrorizado pelo outro. Porque mesmo sendo um trabalho prático de alunos de arquitectura, suponho que esses alunos têm professores que, aparentemente, nada fizeram para não se envergonharem. Já não falo da autarquia, porque aí já todos sabemos que a vergonha tirou há muito férias permanentes. Dou alguns exemplos:

1- Qualquer pessoa sabe que a primeira obrigação do arquitecto é começar por olhar o meio onde vai trabalhar, compreender a sua realidade histórica, urbanística e social, para integrar as suas propostas nesse meio, eventualmente para o adequar a outros tempos, mas nunca para o ofender. Acontece que os infelizes e desmiolados dirigentes deste projecto não mostraram nenhum respeito por um dos melhores planos urbanísticos alguma vez feitos em Portugal. Um plano que deveria ser o orgulho dos marinhenses e, já agora, da Faculdade de Arquitectura de Coimbra.

2- As propostas apresentadas para o futuro de São Pedro de Moel são quase todas demenciais. Desde um Centro de Ciência Viva e Ambiental, a um centro de diversão subterrâneo junto ao Farol, ou até um Centro Criativo das Empresas, há de tudo e propostas para todos os gostos. Há até propostas de urbanização para os melhores espaços verdes que ainda sobrevivem em São Pedro.

Como todos sabem não sou arquitecto, mas também não sou estúpido. Por isso limito-me a propor, por exemplo, que para a praia só sejam permitidos os toldos tradicionais, todos iguais, mas como panos de alguns, poucos, desenhos de bom de gosto, formando um mar de cor, bem alinhado em toda a dimensão da praia. Ou um projecto de apartamentos em escada para a encosta da piscina, sem ultrapassar a quota da praça superior e com escadarias exteriores de madeira a marcar a paisagem. Projecto que recomendo apenas como uma concessão para tornar viável economicamente a recuperação da piscina e acabar com o espectáculo deprimente do que lá existe.

Eu sei que a autarquia tem, desde há muito, receio de responder às minhas críticas e propostas, mas, neste caso, desafio a Faculdade de Arquitectura de Coimbra a esclarecer as razões, se as há, para a pobreza do seu pensamento relativamente aquele espaço emblemático do nosso País, que deveria merecer maior respeito.

Uma palavra final para responsabilizar a autarquia pela forte probabilidade de um fogo poder destruir o vale de São Pedro, cheio de mato ressequido e o perigo que isso representa para as casas ao seu redor. Igualmente, a estrada da Marinha a São Pedro está repleta dos restos secos do fogo anterior e só por milagre não via arder tudo novamente.

Recordo ainda, para que conste, que não adianta fazer obra nova sem antes cuidar do que existe. Infelizmente, ninguém cuida de São Pedro de Moel e até o local da exposição que aqui critiquei, com a excepção do espaço dedicado às crianças, é o exemplo acabado do desleixo autárquico.

Henrique Neto
29/06/2020