Há dias fui dar uma volta pelos dois lados da estrada que liga a nossa cidade a Leiria, antes da descida para Albergaria, afim de conhecer melhor toda a extensão daquela área industrial e do que ela representa para a economia do nosso concelho. Apesar de já conhecer o local, não pude deixar de me espantar com a qualidade de muitos dos novos e dos velhos edifícios empresariais que ali existem e da dimensão económica da zona.

Como resultado da visita, dei comigo a pensar no dinamismo e na qualidade do tecido empresarial da Marinha Grande, em grande parte resultante da iniciativa de ex-operários, muitos deles oriundos de outras empresas mais antigas, fundadas por outros empresários, numa sucessão virtuosa que todos esperamos continue e se desenvolva. Ao mesmo tempo, não pude deixar de pensar que tudo o que a minha vista abarcava não tinha tido qualquer intervenção digna de nota do poder político, local e nacional, situação bem perceptível em alguma anarquia das vias de comunicação, a denunciar falta de planeamento e de percepção da importância económica e social da zona. Suspeito que tudo ali foi deixado ao acaso das iniciativas individuais privadas.

Todavia, de facto, trata-se de uma segunda zona industrial da Marinha Grande, com uma importância que não desmerece da primeira, mas que foi tratada e continua a ser tratada pelos poderes públicos, nacionais e locais, de forma diferente. Por exemplo, não existe verdadeiramente uma ligação entre as duas áreas industriais separadas pela via principal de ligação a Leiria e mesmo as ligações existentes dos dois lados são incipientes e perigosas, além de económica e funcionalmente desajustadas.

Ao pensar em tudo isto concluí que o tratamento dado a esta segunda zona industrial teria sido certamente diferente se existisse na Marinha Grande um órgão colectivo dedicado ao desenvolvimento económico, com representação dos empresários e da autarquia, além de alguns especialistas. Porventura, poderia ser o Conselho Económico previsto há duas décadas, que pensasse e planeasse, em tempo útil, o futuro da Marinha Grande e das infra-estruturas necessárias ao seu desenvolvimento económico e social.

Infelizmente, na Marinha Grande não existe pensamento político e menos ainda debate sobre o modelo de desenvolvimento. A recente organização da semana do design, veio mostrar, mais uma vez, a vontade da autarquia de hegemonizar a vontade das empresas e das associações empresariais, através de uma auto-suficiência que tem tanto de inexplicável quanto de destrutiva. Por isso a zona industrial aqui descrita cresceu e desenvolveu-se politicamente abandonada e a expansão da actual zona industrial move-se a passo de caracol, longe do tempo em que os empresários marinhenses eram parceiros da autarquia e iam a Lisboa reclamar o seu direito ao progresso.

Ainda sobre a semana do design, falei em Lisboa com alguns participantes que, naturalmente, elogiaram a organização do evento. Todavia, fazem-no porque é do seu interesse que a problemática do design seja tratada e discutida nas mais variadas circunstâncias e locais, mas não vêem a questão do design como um novo modelo para a economia e para a promoção externa da indústria marinhense, tema que os ultrapassa e para o qual sabem não terem as competências necessárias. De facto, não é o seu problema.