Charles Dickens, escritor inglês do tempo da revolução industrial e da ascensão do capitalismo, marcou o imaginário de todos nós com o seu famoso Conto de Natal, onde relata a história do velho avarento Scroorge, solitário e implacável com os mais pobres e humildes da sociedade. As imagens do frio e da neve, da escassez e miséria, da bondade e da avareza foram imortalizadas para o cinema e, nos tempos que correm, são de uma brutal atualidade. Como dizia Mircea Eliade o filósofo que estudou a mitologia e a religião há, nas nossas vidas, uma realidade que se repete, época após época, a que ele chamou o Eterno Retorno. Com esta previsão tão fatalista, não vale, pois, a pena estarmos sempre a falar das mesmas coisas que, justamente, se repete de tempos em tempos, estamos, portanto, em condições de dizer daqui a um ano o que provavelmente omitiremos agora.

É por isso que agora, no Natal, em vez de grandes proclamações sobre a vida coletiva e os caminhos da civilização nos atinemos, ainda que por pura abstração, à nossa vida singular, à nossa família que reunimos com afeto e tolerância, aos amigos que lembramos e distinguimos nem que seja através de um sms, aos conselhos que damos aos mais novos para se divertirem mas para terem muito cuidado na estrada, a estrada é uma mortífera boca do inferno, aos produtos portugueses que devemos preferir aos produtos estrangeiros - os pinhões em vez das tâmaras, a raposeira em vez da asti-gancia, as lojas de artesanato local em vez da loja do chinês – e a alegria e a afetividade que nos outros momentos do ano falham e que nesta época ressurgem.

Se tudo isto acontecer, o que não é muito nem pouco, mas é suficiente, podemos desejar, a todos, uns aos outros, um Feliz Natal.