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- Escrito Por: Carla Fragoso
- Na hora
- 26 agosto 2020
Nuno Neto, investigador marinhense de 27 anos, recebeu este ano um prémio relacionado com o seu trabalho sobre o comportamento das células estaminais no intestino. A terminar o doutoramento na Irlanda, quer continuar a dedicar-se por completo à investigação, na Europa ou do lado de lá do Atlântico
É licenciado em Biologia Celular e Molecular. Foi a área em que sempre quis trabalhar? Porquê?
Sim, sempre quis trabalhar numa área que envolvesse trabalho de laboratório e com células que resultasse num possível impacto na vida humana e na medicina. Nunca me imaginei a fazer trabalho de escritório.
Ganhou um prémio sobre o seu trabalho na área de metabolismo celular. Pode explicar do que se trata?
Sim, o prémio do ano passado (2019) na Conferência de Bioengenharia na Irlanda foi relacionado com o facto de as células estaminais mesenquimais alterarem o seu metabolismo consideravelmente durante o processo de diferenciação.
Isto é, quando as células estaminais humanas presentes na medula óssea são recrutadas para um local de regeneração do corpo humano, por exemplo, articulações ou uma fratura óssea, em seguida, são convertidas em células necessárias e específicas a esse tecido.
A inovação aqui foi que este processo é acompanhado por uma mudança no metabolismo celular das células estaminais quando se preparam para formar o novo tecido.
Este ano (2020) consegui ganhar um prémio na Conferência da Sociedade de Microscopia da Irlanda. O meu trabalho era relacionado com as células estaminais do intestino que em resposta à presença ou falta de nutrientes como a glucose, respondem de forma diferente quando comparadas com as células adultas presentes no intestino. Isto poderá dar uma nova ideia de como a alimentação tem um impacto direto nas células do intestino e como pode ajudar a causar ou evitar problemas de saúde no futuro, assim como o desenvolvimento de novos fármacos para doenças inflamatórias do intestino.
Que trabalho está a desenvolver atualmente no Trinity College?
Recentemente, o meu trabalho esteve parado devido à pandemia e estamos a regressar agora aos laboratórios. Durante a quarentena consegui publicar um capítulo de um livro sobre a análise de células usando técnicas de microscopia e publicar dois artigos científicos em colaboração com outros laboratórios do Trinity College em revistas científicas específicas da área.
De futuro, o nosso plano passa por usar fármacos que tenham um impacto no metabolismo celular para tentar acelerar a transformação de células estaminais em células adultas visto que já observámos (no trabalho de 2019) que este processo é dependente do metabolismo celular, se o conseguirmos controlar, controlamos as respostas das células. Com isto, poderemos acelerar o processo de cicatrização ou de regeneração óssea. Além disto, estamos interessados em compreender como o colesterol que se acumula nos vasos sanguíneos tem um impacto na resposta imunitária do corpo humano. Mais para o final do ano e para 2021, com a ajuda de colaboradores na Alemanha, pretendemos estudar a fundo os distúrbios metabólicos nas células de pacientes com Colite Ulcerosa e doença de Crohn.
Recentemente esteve em Portugal onde colaborou no âmbito do combate à COVID-19? Do que se tratou?
Estive envolvido como técnico de análises à COVID-19. Como passei parte da quarentena em Lisboa, tive a oportunidade de me voluntariar, devido à minha experiência, para o centro de análises da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Aí, pude integrar uma equipa de investigadores portugueses, incluindo outros estudantes de doutoramento ou de mestrado na análise de amostras à COVID-19.
O que se segue no seu percurso profissional?
Depois de 2022, ano que devo de terminar o meu doutoramento, pretendo continuar na investigação de metabolismo celular visto que pode ser aplicada a várias áreas, desde a regeneração de tecidos, ao cancro e a doenças neurodegenerativas. Dependendo das oportunidades, gostaria de fazer investigação numa universidade de renome internacional ou numa empresa da indústria farmacêutica, quer na Europa ou nos Estados Unidos.
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Percurso escolar e académico:
Nuno Neto iniciou os seus estudos na Escola Básica de Picassinos, de onde passou para Escola Prof. Alberto Nery Capucho e depois para a Escola Engenheiro Acácio Calazans Duarte, onde fez o secundário. Licenciou-se em Biologia Celular e Molecular na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e fez o mestrado em Bioengenharia e Nanossistemas no Instituto Superior Técnico. Quando terminou o mestrado candidatou-se para uma bolsa de doutoramento do Trinity College Dublin, na Irlanda, onde se encontra atualmente, na posição de estudante de doutoramento.