Ocupam casas, garagens ou carros, abandonados. Para quem vive em dificuldades, ou sem abrigo, o inverno torna a vida mais difícil. O JMG saiu à rua e foi saber como convivem com o frio os mais pobres da Marinha Grande.

 

Pedro Silva

“Há uma indústria fenomenal, veem-se Porches a passar e depois há pessoas a viver em carros abandonados…”, desabafa Carlo Melo, responsável pelo Centro sócio sanitário “Porta Azul”, da Associação Novo Olhar II, na Marinha Grande desde 2003. O projeto, com 14 anos, tem instalações nas imediações do cemitério municipal, no centro da cidade.

No interior das instalações, num fim de tarde frio de uma quinta feira de janeiro, também o dia de vir a enfermeira dar as vacinas e apoio de saúde, o cheiro da “jardineira”, preparada por uma cozinheira voluntária da Universidade Sénior, parece atrair os sem abrigo que começam a chegar para jantar.

“Era um pequeno Casal Ventoso. Na Ivima eram cerca de 400 pessoas. O problema era a troca de seringas e as doenças. Só a polícia ou uma ambulância lá entravam”, conta Carlo Melo ao JMG. Já lá dentro, nas instalações da Novo Olhar II, preparadas para receber pobres e sem abrigo, para banhos, refeições, mantas e acompanhamento de médico e de enfermagem, para casos de toxicodependência ou doença, Carlo Melo recua 14 anos, ao tempo do início do projeto Porta Azul. “Fomos ao local, fizemos o diagnóstico das necessidades destas pessoas, perguntas e inquéritos, avaliámos e submetemos o estudo à Direção Geral de Saúde. Havia dificuldades, problemas de higiene, toxicodependência e demos apoio psicossocial e médico”, avançou o assistente social.

“São cerca de 50 os sem abrigo. O frio? O problema é nos doze meses do ano. Temos ali um a viver num carro abandonado, e vão procurar comer ao lixo do supermercado Pingo Doce”. Para Carlo Melo, na Marinha Grande a situação destas pessoas não se verifica apenas no inverno, mas sim todo o ano. “A adição ou vício não escolhe classes sociais. Há viciados na Internet, telemóveis, jogo, sexo e álcool. O problema não são apenas as drogas, a adição e o estado de pobreza, é também um problema mental, que aqui ajudamos a tratar”, explica.

Para o responsável, também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem feito “um bom trabalho” ao alertar para a situação dos sem abrigo no país, acrescentando que, em breve, estará disponível a “Casa 22”, no Camarnal, cedida pela Câmara Municipal e atualmente em obras, e que vai albergar até seis sem abrigo.

“Porta Azul” apoia problema das adições

Segundo Carlo Melo, a Associação Novo Olhar II, Instituição Particular de Solidariedade Social, com instalações em Marinha Grande e Leiria, nasceu em Coimbra em 2003 e é apoiada pela Direção Geral de Saúde e pelo SICAD – Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, antigo Instituto da Droga e Toxicodependência. Os utentes são pessoas com graves problemas sociais, e na cidade vidreira, atualmente, está em curso o projeto SARA – Serviço Anónimo de Rastreio e Aconselhamento de VIH/Sida, sífilis e hepatites virais, e a campanha “Compreender antes de julgar”.

No terreno, está ainda a Loja Social, que acaba de mudar de instalações para junto dos Estaleiros Municipais e que funciona com o apoio da Câmara Municipal da Marinha Grande.