Os momentos difíceis da vidreira Manuel Pereira Roldão, em 1994, foram recordados por ex-funcionários da empresa.

Em casa o meu filho perguntou-me diversas vezes se havia manteiga para pôr no pão e eu respondi-lhe, por diversas vezes, que não”. Esta frase, de Fernando Fidalgo, foi uma das que marcou a noite da última sexta-feira. Ex-trabalhadores da vidreira Manuel Pereira Roldão (MPR)  juntaram-se, no auditório do edifício da Resinagem, para dar os seus testemunhos sobre os tempos difíceis que passaram no final de 1994, quando a empresa onde trabalhavam deixou de pagar salários.

As memórias não são as melhores de um período difícil das suas vidas. Porém, a maioria dos ex-trabalhadores da MPR manifestam-se orgulhosos com toda a luta. Mariete Mota, escriturária na MPR entre 1969 e 1997, lembrou os anos da gestão controlada realizada pelos trabalhadores e que colocou a empresa numa situação estável. Recordou a década de 90 do século passado, quando a MPR, então administrada por Carlos Antero, acabou por falir. “Aprendi muito durante todos os anos que passei na Manuel Pereira Roldão, apesar dos momentos difíceis”, disse.

Também José Bonita se manifestou “profundamente orgulhoso” com toda a história de luta dos trabalhadores da MPR.  A solidariedade que se sentia e vivia na época é um dos aspetos que mais marcas deixaram na memória do ex-funcionário da vidreira.

Luta não foi em vão

Para Etelvina Ribeiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira e ex-funcionária da MPR, apesar da empresa ter fechado portas, a luta não foi em vão. Afinal, muitos trabalhadores conseguiram ser colocados na Mandata, uma empresa que nasceu das cinzas da MPR, evitando que o número de desempregados fosse maior.
A MPR veio a falir em 1999 e, posteriormente, após medidas especiais de apoio do Governo, foi criada a empresa Mandata, que incorporou parte dos 400 trabalhadores, mas que veio a fechar três anos depois, com vários problemas de tesouraria.