Aparentemente, por aquilo que ouço e leio, algumas empresas portuguesas não encontram no mercado nacional trabalhadores suficientes para contractar


O que é estranho, porque os salários médios continuam baixos e numa economia de mercado a falta de trabalhadores disponíveis deveria provocar uma certa concorrência entre as empresas na contractação de novos trabalhadores, o que conduziria ao aumento dos salários. Foi assim aqui na Marinha Grande no período áureo do crescimento da indústria de moldes, com os trabalhadores a serem disputados.

Claro que a abertura do mercado de trabalho português a trabalhadores imigrantes tem o efeito contrário, manter os salários baixos pelo aumento da oferta. O que em princípio torna falaciosos os apelos do Primeiro Ministro para aumentos do salário médio em 20%. Claro que podemos estar a falar de trabalhadores com diferentes níveis de qualificações, mas como existem jovens licenciados que não encontram trabalho, isso torna a questão ainda mais complicada para saber o que verdadeiramente se passa.

De uma coisa estou certo, a preferência de muitos trabalhadores em criar os seus próprios negócios, como aconteceu aqui na indústria de moldes, seria um passo na direcção certa. Todavia, verifico que a esmagadora maioria das novas iniciativas acontece nos sectores do comércio e não da indústria, onde conduziria a uma maior produção de bens, porventura exportáveis. Ora já existe em Portugal um número excessivo de muito pequenas empresas comerciais – cafés, restaurantes, pastelarias, minimercados, cabeleireiros – que concorrem entre si no mesmo mercado interno, com preços baixos e sem grande hipótese de atingirem o nível de sucesso das empresas de moldes, ou da indústria exportadora em geral. Talvez seja esta a questão da falta de mão de obra, há empregos, mas de empresários e trabalhadores a sobreviverem em muitos milhares de pequenos negócios sem grande futuro, com baixos salários e baixos rendimentos.

Henrique Neto
Empresário