Carlos Caetano está focado no processo de revisão do Plano Diretor Municipal que permitirá definir novas zonas industriais e que considera ser “decisivo” para a continuidade da tradição industrial da Marinha Grande. O vice-presidente da autarquia salienta os investimentos que as grandes vidreiras estão a fazer no concelho, na ordem dos 100 milhões de euros, e defende que mais do que obras deve haver “massa crítica” para que o território possa evoluir

 

Quais são as principais alterações que a revisão do PDM vai trazer ao nosso território?

O PDM só por si não altera o território. A sua função é criar condições para que os agentes económicos, políticos e as diferentes dinâmicas da actividade humana o possam alterar, para melhor, com base em critérios claros, coerentes e justos.

Mas naquilo que regra geral preocupa cada um dos cidadãos, o novo PDM, que já incorpora todos os novos mecanismos de gestão territorial, trará uma definição clara dos limites urbanos dos diferentes aglomerados (que não se podem expandir infinitamente) bem como definirá novos índices de ocupação do solo no que respeita à construção. Este princípio resulta das orientações emanadas pelo Governo da República e aplica-se a todo o território nacional e resume-se ao limitar o alargamento das áreas urbanas permitindo, em contrapartida, maiores índices de ocupação dos solos nas actualmente existentes.

Além desta questão, o novo PDM terá uma importância decisiva para a continuidade da nossa tradição industrial e, consequentemente, para a nossa economia, ao definir um conjunto de novas Zonas Industriais (uma das quais destinada a grandes lotes) em todo o Concelho, destacando-se a expansão das Zonas Industriais do Casal da Lebre e da Vieira de Leiria e a transformação das Áreas Industriais da Marinha Pequena e da Moita em Zonas Industriais. No total ficaremos dotados de cerca de 8 zonas industriais em todo o território municipal.

Apesar de importantes, estes são apenas partes de um todo mais vasto. O futuro do Concelho passa também pela educação, pela saúde, pelo lazer, pelo turismo, pela cultura, pelo ambiente, pela protecção e defesa animal e por tantos outros factores que serão igualmente influenciados por este instrumento de gestão que queremos deixar para os próximos anos.

Daí a importância que lhe temos dado ao longo deste mandato, em que apostámos forte na concretização de algo que já devia ter ocorrido em 2005, reforçando o esforço interno para avançar, reformulando as parcerias externas necessárias e procurando envolver os agentes decisórios, nomeadamente os políticos, o que se traduz no pedido insistente que venho fazendo junto da Assembleia Municipal para que se crie uma comissão de acompanhamento do processo de revisão em curso, o que finalmente viu a “luz do dia” na mais recente sessão da AM.

Faz sentido continuar a autorizar a construção de edifícios comerciais/industriais em meios residenciais?

Edifícios para fins comerciais são distintos dos destinados à indústria e devem ser tratados de forma diferente. No que respeita aos espaços comerciais não me parece que deva existir uma segregação pura e simples, parecendo-me até lógico que possam localizar-se próximo de zonas residenciais.

Quanto aos edifícios industriais, naturalmente que não é desejável que se mantenham as regras do passado, permitindo-se a sua construção em zonas residenciais. Daí, a nossa preocupação em dotar o Concelho com oito Zonas Industriais.

Contudo, todos sabemos que existem empresas, algumas centenárias, “encaixadas” em plena zona urbana e que, pela sua dimensão, importância histórica e capacidade de gerar emprego e riqueza terão que continuar a existir nessas localizações.

É utópico, e até eventualmente demagogo, achar que se pode “obrigar” empresas que fazem parte da nossa história, que fizeram da Marinha Grande a potência industrial que hoje é, a pura e simplesmente a mudar para novas localizações. Provavelmente conseguiríamos que se mudassem para localizações bem longe da Marinha, mais perto do centro da Europa. O que importa aqui, e mais uma vez o novo PDM será uma ferramenta fundamental neste processo, é implementar soluções técnicas modernas que permitam a coexistência pacífica e confortável entre indústrias e moradores. E é isso que já hoje está a acontecer com investimentos, nomeadamente em todas as grandes vidreiras, que poderão rondar os 100 milhões de euros.

Que mais-valias traria à Marinha Grande a existência de uma variante externa? Como está a negociação para isentar de portagens o troço da A8 junto à cidade?

A questão das variantes é antiga e complexa. Precisamos de uma variante? De duas? De três? De uma circular? Julgo que as variantes a construir deverão ter como principal objectivo servir o tráfego de e para as zonas industriais. Por isso, nas propostas que apresentamos no novo PDM mantemos os “corredores” necessários à sua criação. Contudo há questões que não dependem da Câmara Municipal, nomeadamente saber se a construção do IC36 avança ou não (obra da responsabilidade das Infraestruturas de Portugal integrada no Plano Rodoviário Nacional desde 2000), bem como saber quem tem a responsabilidade pela construção e custos das variantes, entre outros factores.

Como disse, na nossa proposta mantemos “corredores” para a criação de variantes, mas também de outras vias de atravessamento da cidade, cujos “corredores” têm vindo a ser preservados ao longo do tempo e que nos permitirão criar novos eixos viários centrais.

Quanto ao processo das portagens da A8 não houve até agora a possibilidade de se concretizar, havendo outros municípios da região a tentar soluções idênticas para os seus territórios, nomeadamente na A19, igualmente sem sucesso. No entanto, continuo a achar que devemos continuar a perseguir esse propósito.

Tem sido visível o esforço para aumentar os quilómetros de ciclovia dentro da cidade. É este o caminho para termos um melhor ambiente num território de cariz eminentemente industrial?

É seguramente uma forma de melhorar o ambiente e a qualidade de vida dos cidadãos. A bicicleta não deve ser encarada como um objecto de uso recreativo. Não é essa a nossa tradição enquanto marinhenses. Não é isso que se vê acontecer por toda a Europa. A bicicleta, num território plano como o nosso, deve ser o principal meio de transporte. Para isso estamos a investir na construção de ciclovias (somos seguramente o Concelho com mais Km de ciclovia de toda a região) mas temos também que investir na educação ambiental e agir sobre os comportamentos e preconceitos. Também ao nível da TUMG temos como objectivo interligar ambos os meios, quer criando condições para que os passageiros possam transportar as suas bicicletas nos nossos autocarros quer criando parques de estacionamento de bicicletas junto às paragens de autocarro.

Que obras/investimentos considera essenciais para que o concelho não perca ‘o comboio’ do desenvolvimento?

Tudo o que se faz tem que ter sempre por base as pessoas, os cidadãos. Sem estes, o “comboio”, por muito moderno que seja, segue viagem vazio.

Dessa forma, os investimentos essenciais são aqueles que consolidam a presença dos nossos cidadãos, que atraem novos habitantes, que nos diversificam económica e culturalmente.

E isto passa pelo mais básico, como aquilo que temos estado a realizar ao nível dos serviços básicos de saneamento e água, mas também pela saúde, educação, cultura e emprego.

São estes factores simples que nos permitirão “lotar” o comboio e, para isso, investimos e apostamos na expansão das Zonas Industriais, atraindo mais indústria, mais serviços e mais cidadãos. Mas queremos que os nossos cidadãos tenham as melhores oportunidades e, para isso, procuramos criar condições para tornar a Marinha Grande num polo de ensino superior de excelência, reforçando as actuais parcerias e procurando outras que as enriqueçam.

Mais do que de obras, o desenvolvimento resulta da massa crítica e espírito empreendedor tão característicos dos nossos cidadãos.