Aquando da morte de Steve Jobs, então presidente da empresa norte-americana Apple, escrevi que a empresa dificilmente continuaria o sucesso que tinha tido sob a batuta do seu fundador, que era também o seu genial inspirador, nomeadamente no campo da inovação de novos produtos.

Escrevi até que o campo de evolução previsível da empresa estaria na televisão, elevada a centro de comunicações da habitação do futuro, campo em que a Samsung poderia estar melhor posicionada.

Venho agora rever a minha posição em vista do lançamento recente do I Phone 6, não tanto pelo telefone em si, que é uma evolução na continuidade sem grande história, mas pelo sistema de pagamentos que, potencialmente, poderá revolucionar o conceito de moeda, muito para além do que já acontece com os cartões de crédito. De facto, a inovação da Apple e, porventura, da Samsung, cujos novos modelos de telefone móvel vão no mesmo sentido, poderá ditar o fim dos cartões de crédito e a nova forma de pagamento nas lojas e na Net poderá alterar a maneira como nos relacionamos com o dinheiro, com resultados surpreendentes ao nível da segurança e da contabilização das despesas.

É relativamente fácil prever que carregando no botão existente no telemóvel, dar-se-á uma ordem de pagamento através do reconhecimento da impressão digital do utente, fazendo-o com a máxima segurança, ao mesmo tempo que é feita a consulta aos bancos para verificar a existência dos fundos necessários, sendo a operação registada, simultaneamente, na entidade vendedora, no banco em questão e no telemóvel do comprador, o qual poderá assim controlar, sem falha, todos os seus gastos do dia, do mês e do ano.

Como é evidente, a entidade vendedora terá de instalar um sistema que faça as necessárias operações, a exemplo daquelas pequenas máquinas que usamos diariamente através dos cartões de crédito, com a diferença que deixará de haver teclado para registar o código secreto hoje utilizado, máquinas que podem ser instaladas pelos bancos, ou ser a própria Apple a transformar-se num banco emissor do sistema, mais ou menos o equivalente à emissão de moeda, o que revolucionará ainda mais o actual sistema financeiro. Recordando que a Apple tem o dinheiro suficiente para o fazer, o que seria a demonstração de que a tecnologia pode relegar para segundo plano os mais relevantes negócios tradicionais.

Nesta descrição existe uma dimensão que interessa à Marinha Grande, no sentido de que poderão aqui ser projectadas essas novas máquinas, como já aconteceu com as existentes. Com a nota de que utilizo este exemplo para demonstrar, mais uma vez, que o importante não é, neste como noutros casos, o design do novo produto, que nesta fase é pouco relevante, mas as alterações tecnológicas que o novo sistema implica. Ou seja, se as empresas industriais e de serviços existentes entre nós, querem verdadeiramente participar na linha da frente do desenvolvimento económico nacional, não será através do conceito design que o conseguirão, mas através da engenharia e das tecnologias envolvidas na criação de novos produtos. O que obviamente terá de ser conseguido em cooperação com as universidades e institutos de investigação.

Claro que nesta questão não desconheço a teimosia, frequentemente a ignorância, dos políticos que estão envolvidos neste debate, mas tenho a esperança de que os empresários marinhenses não desperdicem as oportunidades que um sector de engenharia de produtos pode trazer à Marinha Grande e à economia portuguesa.