O nosso saudoso José Henriques Vareda foi durante muitos anos um defensor da unidade das oposições a Salazar, divergindo por isso de Mário Soares, antes e depois do 25 de Abril


O mesmo aconteceu comigo, que apenas apoiei Mário Soares na sua última candidatura à Presidência da República. O que não evitou que depois da morte do José Vareda eu tenha, numa viagem ao estrangeiro, chamado a atenção do então Presidente da República da dívida que o País e a democracia tinham para com o José Vareda. Soares não me respondeu logo, mas passados poucos meses a família do José Vareda recebeu em Braga das mãos de Mário Soares a merecida Ordem da Liberdade.

Eu próprio, que nada fiz por o merecer, recebi um dia de Mário Soares uma bonita carta que guardo como um grande exemplo da nobreza de carácter desse grande português. Entre outras considerações diz a carta: “Acresce que os portugueses, em geral, estão desiludidos e desorientados, quanto às suas expectativas de futuro. Sentem dificuldades de vida crescentes, têm o sentido agudo de viverem no país, económica e socialmente, mais desigual da União Europeia dos quinze – o que afecta muito a sua coesão social - e não vêem, com facilidade, quais os horizontes de esperança que se lhes oferecem. A situação internacional, tão complexa e desregulada, também justifica algum desnorte”.

Soares termina a carta dizendo: “Enfim, “só é vencido quem desiste de lutar”, como disse na minha declaração final. Por mim não desistirei, apesar da idade, mas, obviamente, no plano cívico e de reflexão política.”

Henrique Neto
Empresário