Para Cesário Silva a educação deve ser vista como “o pilar fundamental de combate às desigualdades sociais”. O diretor do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente defende que falta “uma visão estratégica para os próximos 20 anos” no domínio da educação, lamentando que o projeto de construção do Centro Escolar da Várzea ainda não tenha saído do papel, apesar do financiamento de 2,7 milhões de euros

 

O Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente tem integrado diversos projetos-piloto a nível nacional. Quais os principais benefícios que esses projetos trouxeram à comunidade escolar?

Na realidade o Agrupamento tem estado envolvido em múltiplos projetos em distintas áreas de intervenção, no entanto, o principal foco de incidência quando integramos estes projetos são os alunos e as suas aprendizagens, logo, o principal benefício para a comunidade escolar vai também nesse sentido. Para além dessa mais-valia aporta também, através da participação em diversos grupos e redes de trabalho, espaços de reflexão, contacto com outras realidades e partilha de experiências. Em suma, a nossa participação resulta também de uma cultura e identidade próprias conforme definido no nosso Projeto Educativo.

Nestes projetos existe, quase sempre, uma dimensão de formação e capacitação docente que nos possibilita encarar as tomadas de decisão estratégicas, para o Agrupamento, de uma forma mais participada e, sobretudo, melhor informada e sustentada em conhecimento.

 

Muitas vezes existe o estigma que nos meios mais pequenos as oportunidades não são as mesmas que em grandes cidades, mesmo no que respeita à área da educação. Concorda com esta afirmação? Porquê?

Na minha opinião a diferença não está nas grandes ou nas pequenas cidades está, isso sim, na capacidade de mobilização dos recursos, da relevância que se dá à educação e à formação, da intencionalidade com que fazemos as coisas e numa comunidade que se pretende seja cada vez mais alargada, que ultrapasse a dimensão escolar e que seja capaz de fazer acontecer!

A Marinha Grande tem estado em vários domínios na linha avançada mas precisa de definir uma visão estratégica para a educação, a nível do concelho, com um projeto educativo que englobe todas as estruturas educativas, agregando a comunidade e realçando a educação como o pilar fundamental de combate às desigualdades sociais.

A Marinha não sendo um concelho de grande dimensão populacional continua a ter grandes assimetrias económicas e sociais, que urge combater através de uma educação cada vez de maior qualidade, para todos, que contribua para o desenvolvimento económico e social do concelho.

No caso do nosso Agrupamento temos apostado em promover uma oferta educativa e formativa diversificada e de qualidade. Com aposta em projetos que vão desde a dimensão científica, como é o caso do Clube Ciência Viva na Escola, à desportiva através do Desporto Escolar, à dimensão da Cidadania com uma estratégia local bem definida, à artística através do Plano Nacional das Artes que agrega vários projetos em funcionamento no Agrupamento e ainda à dimensão da comunicação e interação com a comunidade através do Ponto & Vírgula quer nas suas edições em papel quer ainda nas edições eletrónicas.

Importa referir que muitos destes projetos só são possíveis em resultado das múltiplas parcerias que temos estabelecido.

A Secundária Calazans Duarte foi das primeiras escolas a disponibilizar o ensino do Mandarim. Que frutos já deu este projeto?

 

A abertura do ensino do Mandarim está diretamente relacionada com uma cultura de abertura à diversidade linguística e cultural. Permite alargar horizontes aos alunos que frequentam o Mandarim através do contacto com a língua mais falada no mundo enriquecendo o currículo escolar e pessoal e proporcionando ainda outras escolhas de âmbito profissional.

 

Já deu como frutos a representação de Portugal, na China, no Chinese Bridge, em outubro de 2019, através da nossa aluna Susana Graça, que venceu o concurso nacional nesse ano. Temos também já alunos a frequentar cursos no ensino superior nesta área.

 

Quais as necessidades do parque escolar marinhense atualmente?

 

O parque escolar marinhense deveria ser, acima de tudo, um instrumento para concretizar uma visão estratégica capaz de responder às necessidades identificadas. No que se refere ao Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente continuamos a aguardar pela construção do Centro Escolar da Várzea por forma a dar resposta às crianças que iniciam o seu percurso escolar naquela escola e que têm de vir terminar o 1.º ciclo na Escola Guilherme Stephens, por falta de condições físicas que permita acolher os alunos dos 3.º e 4.º anos de escolaridade. Temos perdido demasiado tempo com discussões paralelas sobre a organização das escolas e da prestação de um serviço educativo que se quer de qualidade.

 

Importa talvez deixar como nota que existe um financiamento de cerca de dois milhões e setecentos mil euros para a construção deste Centro Escolar e não temos sabido, ou conseguido, fazer deste projeto um projeto do território ao serviço de toda a comunidade. Falamos de um Centro Escolar que está projetado para acolher 4 grupos de Educação Pré-Escolar e 8 turmas do 1.º Ciclo, duas turmas por ano de escolaridade, num total de cerca de 250 crianças. O projeto está feito, importa agora alocar as verbas restantes necessárias, através do orçamento do município, para a sua concretização.

 

Na sua perspetiva, o que falta ao concelho no domínio da educação?

 

Falta-nos uma visão estratégica, para os próximos 20 anos, onde sejamos capazes de pensar para onde queremos ir, que objetivos pretendemos alcançar, a médio e a longo prazo, e que medidas temos de implementar para atingir os objetivos definidos. Esta questão não é uma questão política ou partidária, é muito mais do que isso, é uma questão de planeamento do território com impacto direto em toda a comunidade.

 

Precisamos, por isso, olhar para a educação e para a formação como a chave para alcançarmos os objetivos do desenvolvimento sustentável, em prol de uma sociedade que ser quer mais justa e solidária.