Aos 75 anos de idade, António Gomes completou dia 11 de janeiro, 60 anos de dedicação à arte da relojoaria. Com porta aberta na Marinha Grande, agora no n.º 81 da Avenida 1.º de Maio, assume a paixão pelos relógios, em especial pelos mais pequenos, que lhe “despertam a adrenalina”

 

Ao JMG, António Gomes conta que entrou na profissão aos 15 anos de idade, por intermédio de Carlos Barosa, amigo do seu falecido pai. Assume que o entusiasmo de ver máquinas a trabalhar foi o que mais o cativou e, ao longo do tempo, foi captando a sua atenção, apontando aspetos como a minúcia, a calma, a paciência e uma boa visão como características essenciais para trabalhar nesta área.

Nos relógios mecânicos não sente quaisquer dificuldades, já nos relógios de quartzo, mais modernos e nos quais se tem verificado uma grande evolução, “estamos sempre a aprender”, refere o relojoeiro. “Já não são relógios, são máquinas que marcam as horas”, conclui.

Os relógios de pulso ou de bolso mecânicos são os seus preferidos, refere António Gomes, que depois de 14 anos ao serviço de António Soares Pinto, resolveu abrir um negócio em nome próprio. Assim nasceu a Ourivesaria Gomes, em 1984, e que durante largas décadas funcionou no centro tradicional da Marinha Grande. Olhando para trás, recorda “momentos bons e maus” e clientes de vários ‘tipos’, uns mais exigentes, outros mais ‘rebeldes’, concluindo que 99% dos seus clientes “são bons”.

Há pouco mais de um ano, instalou-se na Avenida 1.º de Maio, num espaço próprio e não se arrepende. Apesar de alguma quebra na procura de metais preciosos, como a prata e o ouro, assume que o negócio “tem corrido bem”, num local “agradável”, onde se sente “em paz”.

Praticamente todas as semanas é procurado para reparar relógios de sala, alguns com várias décadas, e vai sempre tentando responder às solicitações, embora assuma que nem sempre é fácil encontrar peças.

Humilde por natureza, António Gomes afirma que nesta profissão “estou sempre a aprender e nunca sei nada”. Ainda assim, congratula-se por ter encontrado duas pessoas dispostas a ‘beber’ alguns dos conhecimentos que transporta consigo.

Diz gostar muito de trabalhar e é com ânimo que diariamente abre a porta para mais um dia de trabalho. Embora reformado, António Gomes vai manter-se na atividade “até que Deus queira”. Passear e praticar agricultura biológica são hobbies que não dispensa, mas aos quais se dedica apenas nos tempos livres.

Convidado a deixar um conselho a quem gosta da área, o relojoeiro refere que é importante tentar sempre alcançar os seus objetivos. Em jeito de balanço, afirma: “sinto-me realizado, satisfeito e feliz. Isto é uma paixão”.

O ‘médico de família’ dos relógios

 

Vítor Moderno, cliente há muitos anos, considera António Gomes o seu ‘médico de família’ no que aos relógios diz respeito. Desta vez, veio ver se uma nova pilha poderia prolongar a vida de um Seiko que ofereceu ao filho, há mais de 30 anos, e que usa com orgulho. “Ainda aguenta mais uns tempos”, afirmou este cliente, que recomenda vivamente os serviços do relojoeiro marinhense.

Visita habitual, Nuno Resende, lisboeta radicado na cidade vidreira, diz-se um ‘curioso’ pelos relógios a quem António Gomes despertou “ainda mais” o gosto e interesse pela área. Informático de profissão, disse ao JMG que os momentos que passa na loja do sr. António, “a observar e a indagar” constituem “um escape” na rotina diária. Apaixonou-se pelos relógios grandes, começou a colecionar e, pouco depois, já estava com ‘as mãos na massa’. Para Nuno Resende, “os relógios transmitem alma”, e “até o sr. António me aturar, vou continuar a vir até aqui, para aprender um pouco desta linda arte”.

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