O Tribunal Judicial da Comarca de Leiria – Juízo de Comércio já decretou a insolvência da Cooperativa de Consumo do Povo da Marinha Grande (COOPPOVO), que deixa cerca de 1,9 milhões de euros de dívidas, e uma história de meio século de atividade

 

Encerradas em 1 de setembro de 2022, as portas da COOPPOVO não voltarão a abrir. Os trabalhadores foram colocados em lay-off e a Cooperativa ainda tentou apresentar um plano de recuperação que pudesse salvar uma instituição de referência no concelho, fundada em 1976. Contudo, e após a entrada de um pedido de insolvência no Tribunal do Comércio de Leiria, a mesma viria a ser decretada, vários meses depois, ditando o fim da COOPPOVO.

De acordo com o processo, a que o JMG teve acesso, a insolvência foi requerida em 14 de dezembro de 2022 pela Marabuto Produtos Alimentares SA, que reclama uma dívida de cerca de 70 mil euros de produtos fornecidos, como leite, produtos de limpeza e higiene, e bebidas, entre outros. O pedido viria a ser suspenso uma vez que, dois dias antes, a Panicongelados – Massas Congeladas Lda. havia dado entrada no mesmo Tribunal com semelhante pedido, do qual veio a desistir dias mais tarde. Assim, a 22 de dezembro de 2022, foi declarada cessada a suspensão e o processo seguiu os seus trâmites, tendo sido nomeada uma administradora judicial provisória e realizado o inventário dos bens imóveis e móveis.

Superfícies e pandemia ‘ditaram’ o fim

Nesta altura, a Cooperativa opôs-se à insolvência, declarando que “tem enfrentado tempos difíceis devido ao elevado número de superfícies (Intermarché, Minipreço, Pingo Doce, Lidl) que existem na cidade da Marinha Grande, o que se agravou com a instalação do Aldi nas traseiras das suas instalações”, explicando que a Direção procedeu ao encerramento de algumas unidades autónomas da loja (restaurante, loja de produtos dietéticos, papelaria) por ter verificado serem “deficitárias”. Com vista a rentabilizar as instalações, os seus responsáveis arrendaram-nas, usando as rendas para o cumprimento das obrigações, contudo mantiveram-se as “dificuldades” de pagamento aos fornecedores. Em cima da mesa chegou a estar a celebração de um contrato de leasing sobre as instalações e, mais tarde, a apresentação de um plano de recuperação.

Os responsáveis da COOPPOVO disseram ainda ao Tribunal que o edifício, construído no final da década de 1970, carecia de “bastante manutenção” e que “desde o início de 2020 que os resultados começaram a reduzir-se, face à abertura de estabelecimentos comerciais de maior dimensão”. Foi dado conta do “esforço” das direções em “fidelizar sócios e clientes, angariar novos”, e que “o ano de 2018 foi o último em que teve resultados positivos”. A pandemia de COVID-19 veio agravar a situação em 2020, altura em que a Cooperativa implementou um sistema de entregas ao domicílio, mas que “ainda aumentou mais os custos”.

As dificuldades de tesouraria prejudicaram o abastecimento da loja, pelo que a solução, em 1 de setembro do ano passado, foi o encerramento de portas, à data apenas provisório.

Nessa altura, a Cooperativa dava conta de que tinha “mais de dez mil cooperantes inscritos”, e identificou como Presidente da Direção Luís António Barreiros, Vice-Presidente Vasco Silva, Tesoureira Maria Regina Costa, Secretário Filipe Andrade, e os Vogais Nuno Agostinho, Filipe Duarte e André Fernandes.

Banca e trabalhadores entre os principais credores

Com capital social de 2.500 euros, a COOPPOVO foi decretada insolvente em 30 de maio último e no processo de insolvência constam 70 credores, no valor total de 1,953 milhões de euros, “sendo ainda do conhecimento da ora administradora de insolvência mais 92 credores”, que reclamam créditos que ultrapassam os 300 mil euros.

No processo é feita ainda referência às lojas que a COOPPOVO arrendou a terceiros no exterior do seu edifício, e que tiveram de celebrar contratos para fornecimento de energia elétrica após o corte no abastecimento à Cooperativa, em outubro de 2022. A Lavacoop, por exemplo, reclama prejuízos financeiros por ter estado três meses de portas fechadas, pela reparação de alguns equipamentos e pela necessidade de nova inspeção à instalação de gás.

No que se refere ao ativo da Cooperativa, o Tribunal identificou o prédio urbano composto por dois pavilhões de rés-do-chão e 1.º andar, destinados a atividade comercial, e outro de rés-do-chão para armazém e garagens, e ainda um anexo de atividade comercial e parque de estacionamento, com valor patrimonial de 1,571 milhões de euros, sobre o qual recaem duas hipotecas. Os bens móveis e viaturas foram avaliados em cerca de 35 mil euros.

As dívidas a trabalhadores, Fazenda Nacional, Segurança Social, Bancos e outras entidades financeiras e fornecedores, totalizam, de acordo com o processo, 1.953.519,88 euros.

Entre os credores, há 34 que reclamam direitos laborais, com valores que oscilam entre os 1.267,28 euros e os 35.998,20 euros; a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Alcobaça, Cartaxo, Nazaré, Rio Maior e Santarém reclama 289.348,15 euros de uma hipoteca; a EDP Comercial reclama 40.633,13 euros de fornecimento de energia; a Garval – Sociedade de Garantia Mútua SA reclama 559.197,36 euros de hipoteca e penhor; e, entre outros, o Instituto de Segurança Social reclama 39.453,29 euros de contribuições, quotizações e juros.