Marta Guerreiro, administradora delegada da Valorlis, entidade responsável pela recolha seletiva na região, realça os esforços que têm sido feitos com vista a aumentar os resíduos depositados nos ecopontos, e considera “essencial” o trabalho desenvolvido para a manutenção da saúde pública nesta fase de pandemia



A Valorlis tem registado sucessivos aumentos no que respeita à recolha seletiva de resíduos. A que se devem estes resultados?

A Valorlis registou no primeiro semestre de 2020 um aumento na recolha seletiva de 18% face ao período homólogo de 2019. A separação nos ecopontos aumentou em todos os materiais: vidro; papel e cartão; plástico e metal, sendo que a separação nos ecopontos de plástico e metal foi a que registou um crescimento superior (mais 21% que no ano anterior). Seguiu-se uma evolução muito positiva na separação de papel e cartão para reciclagem (mais 19%). A separação de vidro para reciclagem cresceu 15%.

Este crescimento da recolha seletiva resulta de investimentos que têm vindo a ser concretizados, cofinanciados pelo Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos (POSEUR), na aquisição de novas viaturas de recolha, ecopontos e campanhas de sensibilização para a correta separação que a Valorlis tem vindo a desenvolver em conjunto com os municípios, que se traduziram numa participação efetiva e crescente dos cidadãos aos hábitos de reciclar.

Esta melhoria deve-se também a uma maior consciência ambiental da população, mas estamos realistas do grande desafio que temos pela frente para que a reciclagem seja uma prática diária de toda a população. Separar tudo sempre e em todo o lado.

Os resíduos que chegam às vossas instalações estão devidamente separados ou ainda há muito a fazer neste campo?

Todos os dias produzimos e deitamos fora os nossos resíduos. Para o cidadão termina aqui a sua intervenção. Para a Valorlis é o início do trabalho no tratamento e valorização dos resíduos.

A Valorlis efetua a recolha seletiva de resíduos recicláveis depositados nos ecopontos (vidro, papel/cartão e embalagens de plástico e metal) nos seis concelhos da sua área de intervenção. Depois de a população separar é necessário que a Valorlis prepare estes resíduos para serem transformados na indústria recicladora.

Na unidade de triagem ocorre a separação dos resíduos provenientes do ecoponto amarelo. Os resíduos de embalagem de plástico e metal são separados recorrendo a equipamentos mecânicos, como abre-sacos, separadores balísticos e separadores óticos, passando por um controlo de qualidade efetuado por colaboradores antes de serem prensados e enviados para a indústria recicladora.

O vidro é depositado num silo, sendo periodicamente enviado para retomadores licenciados.

O papel/cartão é sujeito a um processo de triagem simples, e posteriormente é conduzido até uma prensa onde é sujeito a compactação.

Estes resíduos, na indústria recicladora são transformados em novos produtos que utilizamos no nosso dia a dia, como mesas de piquenique, baldes, bacias, fibras têxteis (poliéster).

Neste processo de triagem são retirados alguns produtos que não são passíveis de reciclagem como por exemplo brinquedos, estendais, estores, para-choques de carros etc. Identificamos ainda alguns materiais como embalagens com produtos tóxicos, seringas, resíduos hospitalares, máscaras, luvas, fraldas que não podem mesmo ser colocadas no ecoponto, pelo risco de contaminação e segurança dos operadores de triagem.

Informamos que não é necessário lavar as embalagens, basta escorrer. Mas é fundamental espalmar e colocar os resíduos dentro do ecoponto.

Quanto melhor for feita a separação pelos cidadãos mais fácil e seguro é o trabalho das equipas da Valorlis que recolhem e preparam os resíduos para serem enviados para reciclagem.

E as máscaras cirúrgicas, podem ser recicladas?

As máscaras (de nenhum tipo) não são recicláveis e constituem um risco para a saúde das equipas da Valorlis, pelo que devem ser colocadas sempre no lixo indiferenciado, assim como as luvas e lenços de papel.

Que contributo têm dado os concursos promovidos junto da comunidade educativa? É este o caminho para termos cidadãos mais ‘conscientes’ da importância da reciclagem no futuro?

Desde o início da sua atividade a Valorlis tem apostado em ações de sensibilização junto da comunidade escolar com atividades lúdico-pedagógicas que esclareçam as dúvidas e os mitos existentes sobre a reciclagem e tratamento de resíduos e promovendo corretas práticas ambientais.

Todos os anos, no âmbito do Programa Ecovalor decorre o concurso “Separa e Ganha no Amarelo e Azul”, onde as escolas e IPSS, são desafiadas a promoverem a recolha de resíduos domésticos recicláveis, nomeadamente embalagens de plástico e metal e/ou papel/cartão e trocá-los por material pedagógico.

A todas as instituições que se inscrevem no concurso é disponibilizado o apoio logístico (sacos e recolha seletiva), materiais informativos sobre a separação dos resíduos recicláveis e ações de sensibilização online sobre valorização e tratamento dos resíduos. As inscrições estão a decorrer até 20 de novembro em www.valorlis.pt.

Estas iniciativas motivam as instituições e as suas famílias a melhorar a qualidade e a quantidade de resíduos que separam e em muitos casos a reciclagem passa a ser uma prática do dia a dia.

A Valorlis continua a apostar no trabalho de sensibilização ambiental junto da comunidade escolar, contudo nos últimos anos tem vindo a alargar o seu público-alvo com novas ações e abordagens, nomeadamente ações direcionadas ao público jovem e adulto em feiras e festas, eventos, coletividades e comércio e serviços para que a mensagem chegue com mais impacto a outro público.

Exemplo disso é a aplicação Recycle BinGo. O Recycle BinGo é uma aplicação, mas funciona como um jogo que torna a experiência da reciclagem muito mais divertida e compensadora pois permite obter “moedas” que podem ser trocadas por ótimos prémios, como ecopontos domésticos, vales de desconto, e muito mais. A nova Versão Recycle BinGo2 apresenta uma enciclopédia ecológica, jogos e vídeos e ainda realidade aumentada que permite aprender enquanto recicla. O Recycle BinGo está disponível na App Store e no Google Play.

Até que ponto tem influência nos comportamentos, o público conhecer o destino final dos artigos que deposita no ecoponto?

O comportamento da população é fundamental para que se consiga um correto encaminhamento dos resíduos para reciclagem. A Valorlis acredita que a população informada colabora e envolve-se mais e nesse sentido tem implementado uma política de portas abertas, onde as escolas, instituições e população em geral podem visitar as nossas instalações e ficar a conhecer o que acontece aos resíduos depois de colocados no ecoponto e todo o trabalho realizado pela Valorlis para tratar os resíduos que produzimos em nossa casa.

“Ver ao vivo” a quantidade de resíduos que produzimos e tudo o que acontece a esses resíduos até serem transformados num novo produto, tem um impacto muito positivo junto da população, levando à alteração de comportamentos não só desse indivíduo, como também da família e amigos.

Sabia que 5 garrafas de plástico são suficientes para produzir uma t-shirt tamanho XL?

A Valorlis tem desenvolvido alguns esforços no concelho da Marinha Grande com a colocação de mais ilhas ecológicas e, entre outros, o estabelecimento de uma parceria com o ISDOM. O que se segue?

A Valorlis fez grandes investimentos de forma a otimizar a sua prestação de serviço nos seis concelhos da sua área de intervenção e contribuir para o cumprimento das metas definidas no PERSU 2020, nomeadamente: aumentar a rede de ecopontos, aumentar a recolha porta-a-porta no comércio e serviços, aumentar a recolha no canal Horeca e apostar num novo tipo de contentorização e de recolha seletiva.

Na Marinha Grande foi desenvolvido o projeto piloto Ilhas Ecológicas - recolha seletiva de proximidade, que tem como objetivo aproximar os ecopontos à população, disponibilizar meios para separação em locais onde há dificuldade na colocação de ecopontos e aumentar as quantidades de resíduos enviados para reciclagem. Este projeto permitiu testar novos meios de deposição e recolha de resíduos recicláveis e analisar o alargamento deste projeto a outros concelhos da área de intervenção da Valorlis.

A parceria estabelecida entre a Valorlis e o ISDOM permitiu promover o trabalho criativo dos alunos e dar-lhes a oportunidade de intervir em contextos reais. É cada vez mais pertinente envolver os alunos das universidades na realidade das empresas e estabelecer sinergias no desenvolvimento de projetos que contribuam para a preservação do meio ambiente.

A Valorlis está recetiva a propostas e parcerias que nos queiram dirigir para em conjunto promovermos a adoção de comportamentos mais sustentáveis junto da população.

De que forma se adaptou a Valorlis à situação de pandemia que vivemos e que alterações foram introduzidas no dia a dia da empresa? O que mudou na recolha e tratamento de resíduos nos últimos meses?

O trabalho desempenhado pelas equipas da Valorlis é um trabalho essencial para a manutenção da saúde pública do país nesta fase de pandemia. A recolha e o tratamento dos resíduos continuou a ser assegurada pela Valorlis com as precauções adicionais com vista à proteção da saúde dos colaboradores e da população.

Medidas de prevenção implementadas:

- Formação aos colaboradores sobre as regras de segurança, higiene e proteção individual para prevenção do COVID-19;

- Reforço dos equipamentos de proteção individual distribuídos aos colaboradores;

- Desfasamento dos horários de trabalho em turnos, para permitir um maior distanciamento e menor contacto entre os colaboradores;

- Reforço da higienização das viaturas de recolha de resíduos, postos de trabalho e espaços comuns a cada mudança de turno;

- Constituição de equipas para higienização e limpeza dos ecopontos existentes na via pública em todos os concelhos da área de intervenção da Valorlis;

- Resíduos recolhidos nos ecopontos ficam em “quarentena” durante 72 horas até serem processados na unidade de triagem.

A Valorlis não parou, reinventou-se neste esforço coletivo.

A nível nacional, através da EGF, a Valorlis integra a campanha “O futuro do Planeta não é reciclável”. Em que consiste esta ação?

A campanha “O futuro do Planeta não é reciclável” tem como objetivo levar o cidadão à ação e a fazer parte de um movimento coletivo, através da adoção de comportamentos ambientais adequados na sua gestão diária e ao assumir o seu papel de gestor de recursos, numa cadeia de valor da qual fazem parte a EGF e as suas 11 concessionárias, onde se inclui a Valorlis.

Nesta campanha de âmbito nacional, pretendemos o envolvimento dos colaboradores, municípios e entidades parceiras, para criarmos, em conjunto, um movimento ambiental coletivo que vai fazer a diferença em matérias de prevenção, reutilização e reciclagem de resíduos urbanos.

Apresentamos algumas das ações da campanha:

- O filme publicitário, da autoria do realizador Rúben Alves, que realizou o filme “Gaiola Dourada”, que pretende provocar consciências e levar à mudança necessária de comportamentos;

- Campanha publicitária multimeios, vai estar presente em vários suportes nacionais e regionais - imprensa, rádio, outdoors e televisão-, destacando-se as ações integradas nos programas The Voice Portugal, Big Brother e Manhãs da Rádio Comercial;

- Os municípios e organizações, são convidados a promover esta campanha nas suas regiões, através de cartazes, mupis e outdoors em suporte físico e digital de forma a fazer chegar a mensagem a cada vez mais pessoas;

- Os colaboradores ganham voz e através de pequenos vídeos esclarecem todas as dúvidas à população através da rubrica “Quem sabe, sabe!”;

- Os embaixadores da campanha, a atriz Ana Varela, o humorista António Raminhos, o cantor Toy, vão ajudar a dar voz a este movimento, através de várias ações nas redes sociais;

- O artista urbano Xico Gaivota criou uma peça artística, uma escultura de um golfinho, a partir de lixo marinho, por ser uma das espécies marinhas mais icónicas, despertando assim a atenção de ainda mais portugueses para a reciclagem. A peça pode ser visitada, de forma gratuita, na Loja Capital Verde Europeia 2020. A escultura estará em digressão por vários espaços em todo o país, ao longo do ano de 2021;

- Cuidados especiais de inclusão aplicados nesta campanha: a legendagem dos filmes, a implementação das regras na ordenação dos ecopontos (azul, verde e amarelo) para invisuais, a criação de uma tatuagem com aplicação dos símbolos ColorADD, o código da reciclagem presente em vários suportes informativos, passa a estar disponível em audiodescrição no website da EGF.