Em 15 de outubro próximo serão passados 5 anos sobre o fatídico incêndio de 2017 que consumiu 86% da Mata Nacional de Leiria (MNL). Fizeram-se reuniões, receberam-se visitas, houve discussões e manifestações, realizaram-se plantações, apresentaram-se dados relativos à recuperação da MN

 


Creio interessar agora fazer o ponto de situação com clareza e assertividade, saber como está efetiva e objetivamente a recuperação da MN, corrigir o que houver de errado e fazer melhor.

Passaram 5 épocas de plantação com milhões de pinheiros plantados e experiências várias com outras espécies florestais, outros tantos anos de regeneração natural, como estão esses povoamentos e, portanto, quantos hectares estão sem falhas e se podem considerar rearborizados, quantos têm regeneração natural suficiente e, destes, quantos hectares foram já intervencionados?

Recuperaram-se espaços de lazer, beneficiaram-se estradas florestais, interveio-se na rede divisional, a gestão da MNL e a estrutura dirigente regional foi várias vezes alterada. Estamos agora no bom caminho, dispomos dos meios adequados para que daqui a outros 5 anos toda a MNL esteja rearborizada, recuperada e exista uma estrutura de gestão estabilizada e preparada para promover as necessárias e constantes intervenções culturais nos povoamentos florestais?

É que a recente aprovação de um plano de gestão para a MN nada nos garante, de resto foi já sobejamente criticado e continuará a sê-lo, por outro lado a prática diz-nos que a realidade é ainda pior do que está planeado, veja-se o que sucedeu em 2017.

Os cerca de 1200 ha de povoamentos florestais que sobreviveram ao fogo repartidos por 4 pequenas manchas, têm sido devidamente intervencionados e tratados para que sejam produtivos e estejam protegidos dos incêndios, para que possamos mostrar nos decénios que se seguem aquilo que são os povoamentos adultos de pinheiro bravo da MNL e que foi a sua imagem de marca ao longo dos séculos?

Ou, como parece, estão para ali, em boa parte, semiabandonados, como sucede com a MN do Casal da Lebre, que ocupa 370 ha do concelho da Marinha Grande e que manifestamente não está a ser bem gerida, dada a abundância de matos e de povoamentos excessivamente densos?

O pinhal necessita ser desbastado de 5 em 5 anos, libertando espaço para o melhor arvoredo que fica, abastecendo a indústria, oferecendo trabalho e receita.

Um período de 5 anos representa muito tempo, estamos agora a meio do processo de recuperação da MNL, daí a importância de se fazer uma análise detalhada e concreta ao ocorrido e relançar aquilo que falta fazer, evidentemente corrigindo o que não resultou.

Sabe-se que as plantações de pinheiro bravo nem sempre correram como se desejava, é determinante saber o que falhou e melhorar as intervenções futuras.

As operações de limpeza de matos subsequentes às plantações continuam na maioria dos talhões por se efetuar, o que é incompreensível e denota algum desleixo, os jovens pinheiros estão perdidos, abandonados, alguns já desapareceram no meio do mato e das espécies invasoras, interessa urgentemente acudir a essas situações.

A introdução maciça de outras espécies florestais, designadamente pinheiro manso, carvalhos e outras, nos terrenos arenosos da MNL parece-nos ter sido um erro, interessará confirmá-lo e corrigi-lo.

A sinalética aplicada nas estradas florestais beneficiadas, designadamente nos cruzamentos, com grande profusão de marcações sobre-elevadas em cimento e sinais de trânsito, é mais própria da rede viária nacional e evidencia desconhecimento do que é uma rede viária florestal.

Recorde-se que a MNL é propriedade privada do Estado, e a sua rede viária serve sobretudo a exploração florestal e as intervenções culturais ali realizadas, não se justificando tamanho aparato de cores e cimento num espaço florestal que se pretende com mais biodiversidade e com predominância dos valores naturais.

Começa agora, finalmente, a efetuar-se o aproveitamento da regeneração natural do pinheiro bravo, o que é uma notícia de assinalar e que se deseja progrida rapidamente, pois a competição com os matos e as invasoras está a prejudicar o nascedio do pinhal.

A largura das faixas limpas de matos nesses povoamentos deve rondar os 3,50 m de modo a permitir uma fácil e rápida penetração nos povoamentos de carros de bombeiros e, em ocasiões futuras, os trabalhos de limpeza de matos e de exploração florestal, devendo as linhas com pinheiros a aproveitar terem somente 70 a 80 cm de largura, definindo uma linha de árvores. Porquê faixas tão estreitas e linhas de povoamentos tão largas, em ambos os casos com 2,00 m de largura e com aumento de custos?

Para quando o controlo das espécies invasoras, quer as de natureza lenhosa, quer as restantes?

Alguns dos espaços de lazer e outras infraestruturas foram recuperadas e bem, interessando agora acrescentar outras benfeitorias como sejam a ligação ao posto de vigia da Crastinha, que é o melhor miradouro do concelho da Marinha Grande e um dos melhores da região, com uma vista soberba. O acesso, com 800 m de extensão, a partir da estrada atlântica, pode ser somente para peões e bicicletas, eventualmente para viaturas e ser construído em “tout venant” ou saibro.

Porque não ligar a Ponte Nova e a estrada do ribeiro de Muel ao Ponto Novo com uma escadaria em madeira onde já existiu um trilho que fazia essa ligação, conexando dois espaços emblemáticos da MNL muito apreciados pelos Marinhenses e cuja envolvência e paisagem é totalmente diferente e em ambos os casos magnífica?

Por isso, para além do ICNF apresentar, em outubro próximo, quando se assinalarem 5 anos após a catástrofe, o programa de trabalhos e investimentos para os anos que se seguem e o que já foi realizado, com muitos quadros, mapas e números, esperamos que se faça o ponto de situação dos trabalhos já efetuados e por efetuar com objetividade e competência.

Mais importante do que a dimensão da área intervencionada é saber-se o resultado dos trabalhos realizados, essencialmente a validade e qualidade dos povoamentos florestais que serão o futuro da MNL, dado que estamos em presença de um espaço florestal único, que é uma referência do País.

Octávio Ferreira

Marinha Grande, 12 de setembro de 2022