Um ano após tomar posse como administrador da TUMG, empresa municipal de Transportes Urbanos da Marinha Grande, Pedro Jerónimo concedeu uma entrevista ao JMG onde dá conta dos principais desafios com que se debate, e fala sobre os projetos que quer implementar. “Melhorar a experiência do passageiro” quando utiliza os serviços da TUMG é um dos objetivos do gestor

 

Acaba de completar um ano na administração da TUMG. Que balanço faz deste período?

O balanço que fazemos é muito positivo. Conscientes que não fizemos tudo o que ambicionámos, mas estamos orgulhosos do que já alcançámos e do caminho que já fizemos.

Este primeiro ano foi desafiante, não só para a administração, mas para todos os nossos colaboradores, e aqui, em particular, destacar a sua capacidade de compreensão e de respeitarem os novos modelos de gestão implementados.

Os primeiros objetivos foram assim dirigidos à estrutura interna da empresa. Alcançámos a estabilização dos recursos humanos que pretendíamos. Há cerca de um ano atrás, se algum trabalhador tivesse uma simples consulta médica ou uma ausência imprevista, as rotas e os horários eram suprimidos. Hoje, estamos mais capazes de responder a estas situações sem prejudicar o serviço e o passageiro.

Um outro domínio, foi a criação e implementação de novos modelos de gestão, segregando funções e melhorando a transparência e controlo de processos e procedimentos, que devem caraterizar uma empresa pública.

Paralelamente às medidas de organização interna, que são necessárias e que nos capacitam para outro nível de atuação, mantivemos o foco no cliente e no serviço.

Ao nível dos transportes urbanos conseguimos potenciar, no período de verão, as Linhas para a Praia de São Pedro de Moel e Praia da Vieira. Nos restantes períodos do ano, fizemos ajustamentos nas linhas urbanas e com isso conseguimos reduzir o número de atrasos e evitámos o suprimento de horários. Em resultado disso registamos um crescimento de 11% do número de passageiros.

Os transportes escolares é um outro domínio da atividade da empresa com elevada importância. Recentemente foi adquirida uma viatura de transporte escolar, para substituir a existente que terminou o seu licenciamento no passado mês de junho, e com isso assegurámos que no próximo ano letivo a TUMG continuará a operar com uma viatura no serviço de transporte escolar.

Por isto estamos satisfeitos com os resultados alcançados, mas queremos mais.

A empresa terminou o ano de 2023 com um resultado negativo. Por que razão?

Este assunto já foi esclarecido por diversas vezes e está explicado no nosso relatório de gestão e contas de 2023.

Recordo que a TUMG, sendo uma empresa municipal, deve cumprir com o Regime Jurídico da atividade empresarial local e das participações locais e é nesse domínio que este assunto é sensível, impondo o cumprimento de metas económico-financeiras e consequências quando ocorrem resultados negativos nos últimos três anos.

No ano de 2023 a empresa registou quatro acontecimentos excecionais que influenciaram negativamente os resultados da empresa. A necessidade de contabilisticamente constituir uma provisão por um novo processo de contencioso, a necessidade de regularizarmos os retroativos de vencimentos e de trabalho suplementar dos nossos colaboradores, uma vez que a empresa não estava a cumprir com as suas obrigações legais, a receção de uma coima do Regulador por incumprimentos legais e, por fim, a necessidade de efetuarmos duas grandes reparações de viaturas que se encontravam inoperacionais. Estes acontecimentos resultaram de ações que decorreram antes da tomada de posse desta administração e coube-nos resolver. A inexistência de pelo menos um desses acontecimentos evitaria que a empresa em 2023 registasse resultados negativos.

 

Que medidas pretende implementar até ao final do ano para que os resultados deste exercício sejam favoráveis?

Os instrumentos previsionais apresentados ao Município da Marinha Grande anteveem um conjunto de medidas que vão permitir o regresso da empresa aos resultados positivos.

Ao nível dos rendimentos, reequilibrámos o contrato-programa de serviço público de transporte de passageiros, sustentado no conhecimento interno da empresa e na estrutura de custos. Estamos agora mais capacitados para efetuar um serviço de transporte com recursos próprios, diminuindo os níveis de subcontratação. Conseguimos potenciar a publicidade nas nossas viaturas, duplicando o volume de rendimentos.

Ao nível da despesa estamos diariamente focados nas medidas de contenção e controlo da despesa corrente. As três maiores componentes de custos operacionais da empresa, o pessoal, os combustíveis e as reparações, são praticamente impossíveis de reduzir. Mesmo assim adotámos um controlo apertado das reparações das viaturas, trabalhando mais ao nível da prevenção, que nos permitirá reduzir alguns custos operacionais das viaturas.

Esta política de controlo de custos não nos deve turvar o verdadeiro objetivo que levou à criação da TUMG, prestar um serviço público de transporte de passageiros, mas podemos afirmar, pelos indicadores existentes até à data, que voltaremos aos resultados positivos.

Desde a sua criação, a TUMG não tem parado de crescer, em rotas e serviços. O que se segue?

É um engano quando pensamos apenas que o crescimento se faz com o aumento do número de rotas e de horários. Pretendemos crescer na qualidade do serviço.

No passado dia 1 de julho lançámos a nova imagem corporativa da empresa, mantendo a sua identidade patente nas 3 cores iniciais das linhas urbanas da TUMG, verde, azul e vermelho, com um incremento de um símbolo, melhorando ao nível da imagem e do significado da empresa no território.

Alicerçado neste novo elemento visual, e nesse mesmo dia 1 de julho, os nossos motoristas passaram a estar fardados, aumentando os nossos níveis de profissionalismo e de compromisso com o serviço e com a empresa.

Lançámos ainda duas novas linhas para a Praia de São Pedro de Moel e Praia da Vieira em horário noturno, que já estão a funcionar desde o dia 5 de julho, todas as sextas feiras, sábados e vésperas de feriado, entre as 20h30 e as 2h30, com o objetivo de disponibilizarmos um serviço que permita uma maior facilidade de deslocações e ao mesmo tempo garanta, aos nossos passageiros, uma diversão em segurança.

Ainda neste dia passou a estar disponível uma nova página eletrónica da empresa, melhorando assim a informação ao passageiro e permitindo aumentar os níveis de comunicação.

Por isso, o passado dia 1 de julho foi um marco muito positivo para todos nós.

Continuamos a monitorizar eventuais áreas geográficas para expandir a rede urbana de transporte público, mas admitimos que os nossos próximos objetivos estão estrategicamente alinhados para a melhoria das condições de conforto e de informação aos passageiros, sendo essa uma área crítica e bastante deficitária na empresa. Pretendemos melhorar a experiência do passageiro quando utiliza o serviço prestado pela TUMG.

Relativamente à sustentabilidade, para quando a aquisição de uma frota totalmente elétrica? É possível no médio prazo?

Certamente que esse desejo é de todos, mas só possível com o recurso a apoios comunitários que permitam reduzir os elevados custos de aquisição. Com sentido de responsabilidade, não é possível, por meios próprios, a empresa abraçar o objetivo de descarbonização sem apoios. Estamos a ultimar uma candidatura ao Fundo Ambiental para iniciar este processo. Tal como nós, haverá muitos outros operadores com a mesma ambição, mas vamos submeter a nossa candidatura e esperar positivamente pelo resultado.

Há previsão de aumentar as áreas de estacionamento pago?

Recordo que esta matéria é da exclusiva responsabilidade do Município da Marinha Grande. Cabe à TUMG gerir os lugares de estacionamento de duração limitada e é isso que fazemos.

O Regulamento Municipal está em vigor desde 1 de julho de 2011, tem subjacente a melhoria da rotatividade do estacionamento no centro urbano, permitindo por um lado a libertação de lugares de estacionamento para utilização rotativa e de curta duração, e por outro, atenuar as dificuldade de estacionamento e dissuadindo a utilização do veículo individual, através da promoção da consciencialização dos munícipes para a correta utilização do espaço público, pelo que acreditamos que, passados estes anos, há margem para rever este Regulamento, incorporando novos conceitos da mobilidade sustentável, permitindo, por exemplo, o acesso gratuito ao estacionamento para viaturas de energia limpa.

E quanto aos abrigos? O que está previsto?

Essa matéria é para nós de elevada importância. Os abrigos existentes estão em condições pouco dignas e estão totalmente desalinhados com o que pretendemos para a TUMG e para o serviço público de transporte. Efetuámos um levantamento exaustivo dos abrigos existentes, e sabemos que não há um único abrigo que esteja em perfeitas condições.

É um objetivo desta administração reverter este caminho e salvaguardar os abrigos que são passíveis de reparação e substituir os restantes.

Existem abrigos no concelho que não são patrimonialmente da responsabilidade da empresa, mas estamos disponíveis para iniciar esse investimento.

Que metas estipulou para a sua gestão, no que se refere ao número de passageiros e investimento? Como se conseguem atrair mais pessoas?

As rotas e os horários estão estabilizados. Neste momento a TUMG opera todos os dias da semana, incluindo aos sábados, domingos e feriados e agora em horários noturnos. Podem vir a existir ajustamentos de horários, em função da procura, mas neste momento, o que nos orienta em matéria das próximas ações é melhorar o serviço existente.

Pensamos que se associarmos o investimento do capital humano, à melhoria da nossa frota e às condições dos nossos abrigos e paragens, podemos potenciar o número de passageiros.

O conforto, a pontualidade, o profissionalismo, a qualidade, devem ser as características que identificam a empresa e se trabalharmos melhor esses domínios, o aumento do número de passageiros vai surgir naturalmente.

Os próximos investimentos devem ser priorizados nessas áreas.

Aqui e acolá surgem queixas de atrasos e supressões de autocarros em determinados horários, sem aviso prévio. O que está a ser feito para minimizar/eliminar estas situações?

Esta era uma das principais queixas que existia. Anteriormente, pelas razões já referidas, estes acontecimentos eram frequentes, agora, quando existem, são excecionais e rapidamente resolvidos. Atualmente quando existem supressões momentâneas, elas ocorrem exclusivamente por falhas mecânicas. Se ao nível de pessoal já estamos estabilizados, ainda não existem as mesmas condições ao nível da frota de viaturas, que carecem de melhoria e porventura de um aumento do número de viaturas disponíveis para circulação.

Considera que os serviços atualmente prestados deveriam ser integrados na estrutura do Município, ou defende a continuidade da TUMG enquanto empresa municipal, com gestão independente?

Existem serviços de transporte público de passageiros no país que têm uma gestão integrada no respetivo município e outros com uma gestão independente, como a nossa. Desses serviços, ainda há aqueles que funcionam melhor e aqueles que funcionam pior.

Independentemente do modelo de gestão, o mais importante é disponibilizar um serviço de transporte de qualidade.

A orientação estratégica da administração é colocar a empresa TUMG em melhores níveis de funcionamento e ao serviço das pessoas, e enquanto estiver neste lugar, será esta a minha missão.

 

Qual é a visão que tem para a TUMG dos próximos anos?

Uma empresa de mobilidade urbana mais sustentável, com forte sentido responsabilidade social, mais equilibrada, económica e financeiramente, com um serviço mais confortável e mais próxima do passageiro. Uma empresa que orgulhe todos os que aqui trabalham e todos os que utilizam os nossos serviços, desde os mais jovens aos menos jovens. Uma empresa estimada e desejada por todos.