A avaliar pela sua postura e ar sisudo, ninguém diria que o sr. Adolfo é um “porreiraço”. Mais que um vigilante, que sabe manter o respeito e a ordem, o porteiro da Escola Calazans Duarte é, para os alunos, um amigo em quem podem confiar.

Acabadinho de completar 63 primaveras (comemoradas ontem), Adolfo Gomes é o funcionário da Escola Secundária Acácio Calazans Duarte com mais anos de ‘casa’. Já lá vão 38 anos ao serviço da comunidade escolar, dos quais os primeiros 21 foram passados como vigilante noturno. Entre a meia-noite e as sete da manhã, tinha a escola ‘por sua conta’. Como companhia, tinha os cães de guarda que trouxe de Moçambique, em 1977, quando deixou de vez a terra que o viu nascer.

De há 17 anos para cá que assumiu funções na portaria da Escola, no turno da tarde. A partir das 15h30, é o rosto da Calazans Duarte e o primeiro contacto de todos aqueles que se dirigem àquele estabelecimento de ensino.

Aliás, enquanto conversávamos, fomos frequentemente interrompidos por alunos que, individualmente ou em grupo, pararam junto à entrada da escola para cumprimentar o sr. Adolfo, o que demonstra bem o apreço que os alunos lhe têm.

Ao JMG contou que sempre gostou de trabalhar com jovens, e que tem feito “muitos amigos para a vida”, não só entre os estudantes mais novos, como também entre os adultos que frequentam à escola à noite, entre os colegas e os docentes.

Sempre atento, adianta que os alunos “se portam bem, em geral”, e que a sua intervenção apenas foi necessária algumas vezes, para serenar um ou outro desentendimento mais sério.  

Em tantos anos ao serviço da escola, quase quatro décadas, Adolfo Gomes recorda algumas situações em que teve de chamar a PSP após ter detetado intrusos dentro do recinto escolar, na altura em que fazia apenas vigilância noturna. 

Quanto aos aspetos positivos e mais marcantes, destaca, sem hesitar, amizades estabelecidas e que vão muito além dos portões da escola.

Em tantos anos de serviço, muitas alterações se verificaram, quer a nível de instalações como na maneira de ser e de agir dos próprios alunos. Sobre a escola propriamente dita, Adolfo Gomes considera que “está melhor” e que as obras que têm vindo a ser executadas trouxeram “melhores condições para todos”.

No que respeita aos alunos, os de hoje em dia são “mais independentes”, até na forma de se deslocarem até à escola. Longe vão os tempos em que quem passava junto à Calazans via dezenas de bicicletas penduradas junto à entrada. Hoje em dia a maioria vai de carro, levada pelos pais, mas há também os que já têm viatura própria, os que vão de moda e ainda, poucos, que continuam a usar as duas rodas sem motor. 

Em quarenta anos de serviço, Adolfo Gomes foi convidado algumas vezes a abraçar novos desafios profissionais, mas a paixão pelo seu trabalho falou mais alto e foi ficando… até hoje.

A viver sozinho, por opção, revelou ao JMG que tem na residência do amigo Celso Dengucho a sua “segunda casa. São os meus melhores amigos e são como família para mim”.

Mas Adolfo Gomes admite ter ainda uma terceira casa: o Operário. “É para lá que me dirijo todas as noites assim que acabo o meu trabalho. Levo o meu computador e fico a navegar na Internet até fechar”, acrescentando que se trata do “melhor espaço para conviver na Marinha Grande”.

Dono de um “espírito jovem”, o porteiro mais ‘antigo’ da Calazans confessa que gosta da noite, de sair para se divertir, “mas nada de copos”. Aliás, dançar, é um dos seus hobbies, sobretudo se for música africana…

Nos seus tempos livres, além de conviver com os muitos amigos que já fez através da Internet, nos “quatro” cantos do mundo, gosta de estar rodeado de animais, de passear, de ler sobre a natureza, de ouvir música clássica e de restaurar mobiliário antigo.

“E para quando a reforma?”, pergunto. Adolfo responde que vai tentar a reforma antecipada, no entanto, se “os valores não forem do meu agrado, fico aqui até aos 65 anos”. “E quando se reformar, já sabe o que vai fazer?”, e a resposta foi imediata: vai dedicar-se aos seus hobbies, sobretudo à natureza, aos animais e aos passeios pela região.

“É a imagem de marca da Calazans”

Para o diretor da Escola Calazans Duarte, Adolfo Gomes “é uma referência da própria escola e a imagem de marca da Calazans. Na maior parte das situações, tendo em conta as funções que desempenha na portaria, é o rosto da escola e o primeiro contacto de quem se desloca até aqui”. Cesário Silva destaca “a boa relação, proximidade e confiança” existente entre Adolfo Gomes e os alunos, numa relação “de grande cumplicidade”, destacando “o zelo, empenho, dedicação, a característica humana, no fundo, a amizade que ele cultiva em todos aqueles com que lida diariamente”.

Já a professora Clara Oliveira destacou ao JMG a “boa disposição contagiante” e a simpatia de Adolfo Gomes, “sempre muito prestável”.

Também a professora Alice Marques, que o conhece há cerca de 30 anos e é sua amiga, considera Adolfo Gomes “muito boa pessoa, atencioso, que consegue fazer amizades com muita facilidade e prova disso é a boa relação que tem com os alunos”.